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Nível do Guaíba segue caindo, e lagoa dos Patos sobe e inunda bairros

Enquanto Guaíba baixa, água flui e causa estragos em outras regiões, antes de desembocar no Oceano Atlântico

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Porto Alegre e São Paulo

O nível do lago Guaíba segue baixando em Porto Alegre, e logo na manhã desta quinta-feira (16) a inundação ficou abaixo dos 5 metros pela primeira vez desde segunda (13). À noite o lago havia baixado ainda mais, e às 19h15 marcava 4,84 metros no cais Mauá.

Essa água, contudo, fluiu em direção à lagoa dos Patos, no sul do Rio Grande do Sul, e aumentou a cheia em cidades como Rio Grande e São José do Norte, antes de desembocar no Atlântico.

Em Rio Grande, mais de 600 pessoas foram resgatadas somente entre a noite de quarta (15) e a madrugada desta quinta (16). O nível da água chegou a 2,66 metros pela manhã e às 16h já alcançava 2,74 metros —84 cm acima do nível do Cais—, segundo a prefeitura.

Nível da lagoa dos Patos sobe, e a água invade ruas em Rio Grande - Filipi Amorim

Moradora do bairro Salgado Filho, a confeiteira Greiciele Silva, 24, disse que viu a água subir rapidamente por volta das 23h de quarta-feira. "Em dez minutos a água já cobria o pé. A água invadiu pela frente da casa e também pelos ralos."

Ela contou que estava em casa com o marido e as filhas de 1 e 4 anos e acabou resgatada por voluntários quando a água já a atingia na altura da cintura.

"Eu acionei a Defesa Civil pelo WhatsApp, mas ficam perguntando as idades, número de pessoas, qual o nível da água. Mas a água não espera para subir. Passou um voluntário com uma caminhonete e nós saímos com a água pela cintura."

Ela disse que o marido ficou para trás, tentando subir o maior número possível de móveis da casa. A família depois foi acolhida na casa da mãe de Greiciele no bairro Getúlio Vargas, que não foi afetado pela cheia.

De acordo com boletim divulgado pela Prefeitura de Rio Grande às 16h desta quinta, havia na cidade 666 desabrigados. Essas pessoas estão em nove alojamentos, e há ainda dois abrigos em preparação.

Com vias bloqueadas e dificuldades de acesso e locomoção, serviços básicos foram afetados na cidade. "Não há normalidade no transporte coletivo há vários dias", disse Anderson Castro, secretário municipal de Mobilidade, Acessibilidade e Segurança.

Na rede municipal de ensino, as aulas foram suspensas até o dia 29 de maio, conforme anunciado pela secretaria de Educação.

O comércio também foi duramente afetado. Em nota divulgada na quarta-feira, o Sindilojas (Sindicato dos Lojistas do Comércio de Rio Grande) e o Sindicato dos Empregados no Comércio da cidade anunciaram decisão conjunta de fechar temporariamente os estabelecimentos comerciais nas regiões diretamente afetadas pela cheia.

Na vizinha São José do Norte, do outro lado da lagoa, ruas também estão inundadas e havia 119 pessoas em abrigos. As aulas foram suspensas por tempo indeterminado, e o funcionamento da balsa que conecta as duas cidades está inoperante.

Também há inundações em cidades como Pelotas e São Lourenço do Sul. As cidades sofrem com os impactos do fenômeno climático que atingiu o Rio Grande do Sul a partir de 29 de abril e chegou ao sul do estado com força nos últimos dias.

Até esta quinta-feira, as cheias históricas deixaram 151 mortos, 104 desaparecidos e 806 feridos no estado. O número de desalojados passa de 540 mil, e outras 77 mil pessoas estão em abrigos.

O acolhimento dos desabrigados é um grande desafio, e quatro cidades provisórias podem ser construídas para acolher as vítimas das enchentes, de acordo com o vice-governador do estado, Gabriel Souza (MDB).

Segundo ele, os locais estudados para abrigar as pessoas estão em Porto Alegre, Guaíba, Canoas e São Leopoldo, justamente as cidades que reúnem o maior número de desabrigados no estado.

"Teremos espaço para crianças e pets. Lavanderia coletiva. Cozinha comunitária. Dormitórios e banheiros. Isso nesse período em que as pessoas ainda necessitarão desse apoio", disse Souza em entrevista à Rádio Gaúcha.

O vice-governador também falou sobre prazos. "Na semana que vem, vamos iniciar a contratação. Até amanhã [hoje] vamos ter o descritivo das estruturas temporárias necessárias. É mais rápido contratar um serviço de montagem dessas estruturas. É como se fosse uma estrutura de eventos com qualificação para albergar pessoas", afirmou.

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), afirmou em entrevista à Folha que das tantas questões urgentes e graves com as quais precisa lidar em meio à tragédia, a mais difícil e prioritária é a definição de como irão morar os cerca de 15 mil desabrigados na cidade —número que pode aumentar.

"Não tem imóveis disponíveis neste momento", disse. O prefeito calcula que o total de pessoas que necessitam de um novo lar na capital –que é a cidade com o maior número de residências atingidas pela cheia– deve chegar a 30 mil e afirma que pediu ao governo federal que comande um plano de habitação para tanta gente.

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